quarta-feira

Destinos cruzados


Destinos cruzados

Havia algo que me intrigava naquele olhar distante. Mas, dia após dia, por mais que tentasse, Ana não conseguia se aproximar. Lauro era aquela pessoa introvertida, que se mantinha um pouco distante das pessoas. Sempre sozinho, nunca ninguém o havia encontrado em nenhum evento. Laurinho, como era conhecido entre os poucos e eventuais amigos, era um homem bonito; um coroa alto, elegante, que se vestia com harmonia e simplicidade. Porém, o seu perfume agradável, era marcante e exalava por todos os lugares que passava. 
Não tinha muito tempo que se mudara para a cidade. Havia instalado ali, seu pequeno comércio. Farmacêutico experiente, chegou àquela pacata cidade, em busca de uma vida tranquila. Vivia sozinho, num apartamento simples de dois quartos. Era um pequeno empresário, do ramo farmacêutico e vivia apenas de casa para o trabalho. 
A proximidade dos apartamentos dele e de Ana, fazia com que os dois se encontrassem quase que diariamente. E sempre que isso acontecia, despertava nela, maior interesse em olhar no fundo daqueles olhos fugidios, que apenas se percebia um verde musgo, distante e perdido no vazio do tempo, a maioria das vezes.
E, por mais que tentasse, ela não conseguia deixar de pensar. Aquela introspecção e jeito misterioso de ser, chamavam a sua atenção. As imagens eram constantes em sua mente. Aquele cheiro estava tão impregnado nela, que o dia inteiro o sentia, inexplicavelmente.
Certa noite, sem conseguir conciliar o sono, percebeu que toda sua inquietação provinha das imagens e daquela fragrância, inesquecíveis! Levantou e começou a se questionar os motivos de tanta inquietação e tantos pensamentos por um, praticamente, desconhecido. Sim, Laurinho era isso. Nunca havíam trocado mais que breves cumprimentos. Seu nome era conhecido, porque estava escrito em seu guarda pó, que usava durante o expediente da farmácia e ouvia algumas poucas pessoas chamá-lo. Para seu descontento, se percebeu apaixonada; 
- como assim? Paixão por um quase desconhecido? 
Meu Deus, como pude chegar a esse ponto? 
Ana  não conseguia achar uma resposta que aquietasse  sua alma. Mas, pensando bem, isso era o que menos importava... como fazer agora? Era a pergunta que não saia de sua cabeça.
As horas se passaram o dia amanheceu e ela foi a luta. Em seu trabalho, aquela pergunta que se fez a noite, a inquietava. As amigas notaram seu comportamento inquieto e calado. Todas estavam querendo saber o que se passara, mas ela continuava dizer, que não era nada. Estava apenas em uma fase introspectiva, para pensar na vida.
A noite desceu, fria. O vento deixava a sensação de uma temperatura menor, que a real. Ana havia chegado mais cedo do trabalho. Tomou um banho para relaxar e deitou pensativa. De uma hora pra outra, tomou uma decisão: ou fazia algo, ou, enlouqueceria, já que não conseguia fazer mais nada, sem ser atropelada por aqueles pensamentos. Afinal, quem seria aquele misterioso, que a tomou por inteira?
Levantou, se vestiu discretamente, mas, elegante e sensual. Seu decote deixava o colo dos seios à mostra e a saia ligeiramente curta, com uma pequena fenda lateral. O preto ressaia bem em tom de pele e dos cabelos. Fez uma ligeira maquiagem, enrolou um cachecol no pescoço e decidida foi até a farmácia.
O friozinho arrepiava sua pele e a fez apressar os passos. Se aproximou e percebeu que o estabelecimento estava quase fechando. Havia apenas um foco de luz, que vinha de uma pequena porta, aberta na lateral. Sem pensar em nada, entrou e o viu terminando de arrumar as prateleiras, Imediatamente se perguntou: que farei agora, que direi? Não havia pensado nisso, mas deixaria que sua intuição falasse mais alto; ou talvez, nada precisassem falar.
- Boa noite!
Ele se voltou para ela e se deslumbrou com o que via. Pela primeira vez, aquele olhar se desprendia dele mesmo e com um ar mais ameno e surpreso, respondeu;
- Boa noite! Em que posso ajudar? 
Ela aproveitando aquele momento único, mantinha o olhar fixo no dele. Aquele momento, eles sentiram que havia algo mais forte no ar.
E Ana, vestida de uma coragem, que não sabia onde a encontrara, lhe disse:
Na verdade eu vim procurar um remédio, que em nenhuma farmácia consegui encontrar. E os dois se aproximavam de mansinho, como se um imã, estivesse puxando um, de encontro ao outro.
- E acha que posso ter aqui?
- Sim, disse Ana. Claro que não na farmácia, mas dentro de você...
E ele agarrou-a com ímpeto e volúpia. Se beijaram com intensidade e ardor. As carícias foram se intensificando e em êxtase, ali mesmo, os dois fizeram amor.
A história de vida de Laurinho, naquele momento foi esquecida, ficara pra depois, quando aquele momento passasse...


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